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Mais de um mês depois de ter regressado de Santiago, escrevo finalmente este post final (passe a redundância).
Mais de um mês depois de ter regressado de Santiago, escrevo finalmente este post final (passe a redundância).
Falta de tempo, mas principalmente falta de palavras.
Este foi sem dúvida o post que mais me custou escrever...
O regresso de autocarro decorreu sem incidentes. Mas depois de chegada a Lisboa, ainda tinha muitos km para fazer até casa. E o que me valeu foi o facto de o meu carro ter caixa automática (ver post anterior), ou não teria conseguido conduzir.
Chegar a casa foi estranho.
Os meus filhos receberam-me de braços abertos e sorriso no rosto.
Olhei em redor, e tudo parecia inalterado, como 6 dias antes o tinha deixado.
Mas não. Alguma coisa tinha mudado, e custei a perceber o quê.
Tantas pessoas (das que sabiam onde fui estes dias) me perguntaram como correu, o que aconteceu, como foi, e eu pouco lhes conseguia responder. Apenas conseguia dizer "foi bom, adorei" (e era verdade...). Demorei a assimilar tudo, e creio que nem agora ainda o fiz...
Também por isso a própria descrição dos dias foi saindo a "conta gotas".
Resolvi fazer o Caminho de Santiago por tudo o que aqui descrevi inicialmente, mas durante o Caminho descobri outras motivações. Não o fiz por questões religiosas, mas encontrei religiosidade em todo o Caminho.
Resolvi ir sozinha porque tinha necessidade de me afastar, de me recentrar, de me reencontrar.
Apesar de já ter tomado essa decisão, dias antes da partida perdi de uma forma abrupta e inexplicada alguém que amava, que estava sempre presente comigo e para mim, que muito me tinha dado e que de repente me deixou sem qualquer explicação. Também para essa perda eu busquei consolo, refúgio, respostas.
Fui sozinha. Tive medo. Tive dúvidas. Pensei desistir mesmo antes de lá chegar.
Nunca estive sozinha.
Levei comigo músicas escolhidas por amigos, roupa emprestada por amigos, material, recordações. Levei comigo no coração todos aqueles que de mim fazem parte, mesmo quem decidiu deixar de fazer. Levei comigo as palavras que troquei, que me fizeram acreditar, aprender a amar sem conhecer, que me fizeram ser/sentir tantas vezes como uma montanha russa de emoções. Todos, mas mesmo TODOS estiveram comigo sempre...
Nunca estive sozinha, porque sempre encontrei Peregrinos prontos a ajudar, a conversar, a simplesmente caminharem lado a lado comigo.
Curiosamente, desde o americano John, ao austríaco, e terminando nos três fantásticos portugueses que me acompanharam e incentivaram no último dia, tenho a certeza absoluta que foram colocados no meu trajeto na hora exata em que deles necessitei. Cada história que comigo partilharam (e que por coincidência tocava sempre em algum ponto mais sensível da minha estada ali), cada gargalhada nos momentos mais difíceis, tudo, mas mesmo tudo se conjugou de forma perfeita para me ajudar.
Até o meu sobrinho Santiago nasceu no dia em que eu parti!!!
Optei várias vezes por ter companhia nos jantares, nos convívios, mesmo na caminhada final, quando poderia tê-lo feito sozinha, conforme planeara de início.
Fiz bem em fazer isso?
Deveria ter feito uma maior introspeção?
Teria dessa forma conseguido alcançar melhor os meus objetivos?
Foi como foi, e adorei que assim tivesse sido. Podia ter sido diferente. Podia...
Sim, Rui, as minhas expectativas não foram goradas neste Camiño. Provavelmente foram atingidas de uma forma diferente do que eu esperava de início. Mas não vim de lá desiludida.
Sim, Rui, as minhas expectativas não foram goradas neste Camiño. Provavelmente foram atingidas de uma forma diferente do que eu esperava de início. Mas não vim de lá desiludida.
Uma das coisas que me perguntei vezes sem conta desde que "regressei ao mundo real" foi se valeu a pena, mas acima de tudo, em que é que valeu a pena.
Valeu. Valeu por tudo.
Se voltaria a fazer tal e qual, tomando as mesmas opções que tomei no momento? Talvez não. Mas não teria sido a mesma coisa...
A minha forma de encarar muitas coisas na minha vida, nas "minhas pessoas" mudou.
Refresquei a cabeça e vim de lá sem muitas respostas ou consolo, mas mais serena. É precisamente essa a palavra que melhor descreve o que de lá trouxe: serenidade.
Mais de dois meses depois (e em período "oficial" de férias), consigo colocar em algumas palavras (as públicas...) aquilo que senti e que sinto.
Fui eu quem mudou no regresso a casa.
O meu Camiño deu-me exatamente aquilo que eu necessitava.
Não trouxe todas as respostas, não saí de lá a perceber todas as minhas dúvidas, não me trouxe ninguém nem nada de volta.
Mas deu-me aquilo que eu mais queria: Eu.
Não
sei (ainda) exatamente aquilo que quero ou que vou fazer. O meu rumo
não está ainda perfeitamente definido, mas isso acho que nunca estará.
Tem uma direção, isso sim. Sei o que não quero. Sei quem não quero.
Sei que tenho de fazer escolhas, tal como cada um faz as suas, e viver em consciência com elas.
A reflexão dentro da Catedral (e na praça, frente a ela) vem-me muitas vezes à memória desde o dia 7 de junho. E a cada vez retiro mais conclusões...
O meu Eu continua por montes e vales, mas agora estabelece prioridades diferentes. Mais relevantes, creio eu.
Por fim, digo-vos que trouxe de lá duas certezas:
- Fazer o Camiño foi a minha melhor opção nesta fase da minha vida
- Vou voltar a fazê-lo (no ano que vem, outro trajeto...)
Não posso terminar este post (blog) sem voltar a agradecer a todos, como aqui.
Sem cada um deles, esta minha caminhada não teria sido possível.
Agradecer ao Pina, ao Jorge e ao Duarte, pela fantástica companhia/apoio/incentivo do último dia de caminhada.
Necessito de agradecer especialmente a um outro Amigo que não foi mencionado nesse post inicial:
- Ao HD, que comigo trocou mails durante a viagem até Tuy, que me aconselhou tanto sobre questões práticas como sobre o Camiño em si. Por ser quem é, pelo seu exemplo de vida e por estar sempre à distância de um mail ou de um sms. Seja para o Camiño ou para outros Caminhos... :)
Obrigada a todos por terem estado desse lado.
PS - Peço desculpa por diversas vezes o português deste blog não ser o melhor. Escrevi sempre com o coração, quase sempre sem rever o que tinha escrito.